Estórias de Cada Um

VICTOR MOTTA

Homem com óculos de grauDescrição gerada automaticamente

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Claro amigo Caíque, como esquecer? Toda nossa luta para resguardar os pertences dos colaboradores e afinal um dos dois últimos aviões de resgate foi mandado retornar, nos causando grande frustação. Havia citado e perguntado por você ao grupo. Entre no grupo Luzamba, você tem muito a contribuir. Grande prazer em reencontrá-lo. Abração

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Me lembro quando resgatamos os seis russos que tinham fugido de Capanda pelo Rio Kwanza e estavam em situação miserável. Pousamos o “caminhão” russo no leito do rio e eles tentaram fugir pensando que era a UNITA atrás deles. Comigo dois majores da ONU, um holandês e outro inglês. O Da Cruz já havia se deslocado guiando o pessoal da segurança com êxito;

Já acusados pelo nosso rádio, havia um grupo no aeroporto e o embaixador na época fazia o grande teatro como se fora ele o responsável dando entrevistas a um jovem repórter, Pedro Bial…Tratei de me certificar que os russos tinham sido acolhidos e de fininho voltei para o GAMEK. De lá, vi esse repórter fazer uma transmissão (gravação) para sua TV. Nunca me perguntou nada como havia ocorrido o resgate. Achei tudo muito interessante de como se fazem as notícias.

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Bom dia Alexandre. Voltando ao retorno da Namíbia para Luanda, você, o Brian, dezenove Gurcas e eu. Hehehehe, foi um “bate e volta” feito nadadores. Todo o restante da equipe de segurança retornou a seus países de origem

Eng. Ferrão e eu em almoço em homenagem ao Ministro Craveiro.

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Logo após o ataque à mansão do Savimbi (nosso vizinho) fui com um grupo de policiais ao local. Muita destruição, soldados mortos pelo, muita coisa espalhada por toda parte. Recolhi um belo quadro à óleo que deixei no Gamek. Mas tarde conto detalhe

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Uma pista de pouso improvisada. Isto é matéria do Curso de Precursores Paraquedistas no qual fui instrutor por seis anos. A equipe que trabalhou em Luzamba, parte de Capanda e na vila do GAMEK foi escolhida por mim muito cuidado e era toda de altíssimo preparo profissional

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Não o Santo Antônio era coronel. O Brigadeiro Cmt em Cafunfo, era o Bgd. Furungou, com o qual jantei duas vezes, cercado por quatro seguranças armados. Na invasão, após nos abrigarmos dos tiros, eu voltei e logo fui cercado por vários soldados gritando -Motorola, Motorola- e querendo tomar os dois que eu tinha na cintura. Aí, dei uma de louco e gritei- Eu sou o coronel Motta, onde está o Cmt de vocês. Os soldados ficaram parados e um sujeito se adiantou e disse- eu sou o coronel Santo Antônio e sei que é o senhor. Bem, a partir daí, conversamos, jantamos juntos e consegui demovê-los das 24horas iniciais que havia dado para nossa saída. Logo depois tanto ele como o Bgd Futungo foram transferidos. Talvez porque o Savimbi os tenha considerado muito brandos conosco

Em 1991, eu trabalhava em uma construtora no Rio de Janeiro, juntamente com uma grande e saudoso amigo, o Venturi. Ela era vizinho de porta com um funcionário da Odebrecht, também no Rio que lhe perguntou se, como ex militar, podia indicar candidatos para trabalhar em segurança em Angola. Na sede da empresa estava um inglês de nome Buchanan, fazendo essas entrevistas. O Venturi pediu-me para falar com o gajo, pois eu teria mais condições de indicar nomes de ex militares Comandos e Forças Especiais. Fui até lá e descobri que o tal Buchanan era ex major do exército inglês e começamos a bater um longo papo sobre experiências da caserna. Ele me contou que estava com muita dificuldade de selecionar candidatos e citou duas passagens interessantes: um ex delegado da polícia civil se apresentou como candidato se vangloriando de sua valentia e ação contra bandidos e, em dado momento, sacou um revólver 38 para mostrar suas habilidades. Perdeu a chance na hora. Outro, foi um almirante reformado que disse que tinha uma empresa e lhe cobrou uma fortuna. Foi recusado. Depois desse longo papo de amenidades, fomos trocando informações sobre nossas formações profissionais e ele ficou entusiasmado pela possibilidade de eu indicar militares altamente qualificados por ser Paraquedista, Precursor, Comando, Forças Especiais, Special Forces no exército americano. Em dado momento, após eu lhe garantir que pelo menos uns trinta seriam indicados para seleção, ele me perguntou quanto eu cobraria pelo trabalho. Eu lhe respondi, nada. Faço isso como uma obrigação para meus ex comandados e amigos. Tudo acertado, indiquei mais de trinta para seleção e já estava trabalhando normalmente, agora em Brasília, dirigindo o complexo grupo de comunicação com jornal, rádios e uma TV em Goiana, quando fui contactado por um funcionário da Odebrecht que me informou que um engenheiro de nome Delmar estaria no Galeão, de passagem para Recife e que dirigia o Projeto de

Angola e que gostaria de me conhecer. Na hora, pensei que o tal Delmar queria me agradecer pessoalmente e achei que sujeito fino e educado. Depois o funcionário que infelizmente não lembro o nome, me ligou e me pediu que levasse meu currículo. Novamente pensei que ele queria ter certeza da qualidade de minhas indicações. Chegado o dia fomos para o Galeão e nos encontramos no restaurante com o Delmar. Conversamos um pouco e ele me pediu para dar uma olhada no currículo. Foi lendo e depois me disse: impressionante. Nos despedimos ele realmente agradeceu a ajuda d voltei para Brasília. Algum tempo depois, esse mesmo funcionário (eu tenho que lembrar o nome dele) me liga e pergunta se eu teria disponibilidade para me ausentar por uma semana para viajar para conhecer o local do trabalho do meu pessoal em Angola. Falei com o dono da empresa onde trabalhava e marcamos a viagem

Bom dia Grupo! Voltando à narrativa de ontem de como aterrei em LUZAMBA: no Galeão, me encontrei com um cidadão de sobrenome Rosa (também não lembro seu nome) com o qual eu iria viajar via Lisboa, pois ele também viajaria para Angola. Na viagem, fiquei sabendo que ele era sócio em uma empresa- Nova Gestão- que estava prestando assessoria ao Projeto LUZAMBA. Cedo, chegamos à Lisboa e fomos para o hotel Zurique, recepcionadas por um cidadão português que trabalhava para a Odebrecht. À noite, voamos para Angola. Um susto na chegada. A confusão era total no aeroporto e não fosse o excelente sistema que a Odebrecht usava para receber seu pessoal, eu ficaria perdido. Mas não era a primeira viagem do Rosa para o Projeto e me orientou meus primeiros momentos em terras angolanas. A caminho do local onde se hospedavam os funcionários da empresa que trabalhavam em Luanda, outro susto. Em dado momento, sons de sirene, carros se colocando à margem da estrada, pessoas descendo dos carros. Eis que passa um cortejo tendo à frente um veículo com dois militares armados de cada lado, à toda velocidade. Ninguém poderia ficar à frente. O Rosa, experiente, me explicou que era o Presidente da República Popular de Angola que sempre se deslocava dessa forma e que a residência dele era perto da Vila do GAMEK para onde estávamos indo

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Bom dia meus queridos. Segue o baile, como diriam os gaúchos. No GAMEK, fiquei alojado em uma das casas e no dia seguinte voei para o Cafunfo e de lá para LUZAMBA. Fui recebido por essa grande e saudosa personalidade- Jonh Oglesby- que foi meu cicerone durante toda minha primeira estada na área, me instruindo de cada momento do processo da extração de diamantes com visitas aos diversos locais e setores do empreendimento. Tivemos um contato com Delmar e com alguns colaboradores, inclusive da segurança. Meu amigo e companheiro nas Forças Especiais, Carlos Barros, que eu havia indicado para o Buchanan, já estava trabalhando com ele, coordenando a segurança da “cidade” de Luzamba. Um fato curioso foi que ao saber que meu pai havia nascido em Manchester, passei a frequentar a “embaixada “anglo-saxônica na casa de Bárbara e John, usufruindo inclusive de suas deliciosas comidas. Passada a semana, Barros e eu fomos chamados pelo Delmar para uma conversa e ele nos informou que iria deslocar o Buchanan para uma função de assessoria, pois ele tinha dificuldades em lidar diretamente com os angolanos e já tinha havido um sério incidente com ele e colaboradores angolanos. Ato contínuo, ele me perguntou se eu gostaria de assumir a Gerência de Segurança. Outro susto. O desafio era grande e o fato de trabalhar com pessoas em que confiava me levaram a aceitar. Pedi um tempo para me desligar de minhas funções na direção em Brasília e após os exames admissionais, me desloquei para Angola, via TAAG. No Galeão, encontrei o Alexandre Rocha que ficou surpreso de eu viajar na classe econômica e não na executiva como os demais gerentes. Foi uma viagem com um avião lotado que na chegada tivemos a nos recepcionar o querido e saudoso amigo Rui. Mais uma vez, a “loucura “na recepção das malas e a ida para o Gamek com posterior chegada em LUZAMBA onde assumi minhas funções. Bons e desafiantes tempos, mas de notáveis companheiros e companheiras e de grandes amizades. Minha gratidão e respeito a todos.

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Um fato interessante, que mesmo que nada tenha a ver diretamente com LUZAMBA gostaria de narrar. Quando trabalhava como diretor desse complexo de comunicação com unidades em Brasília e Goiânia, fui procurado por um funcionário se eu poderia receber no jornal um jovem deputado federal, recém eleito. Foi feita a visita, não o conhecia pessoalmente, com fotos que saíram na primeira página, cafezinho e uns trinta minutos de papo onde o jovem, muito empolgado narrava seus planos agora em Brasília. Foi assim que conheci o deputado Jair Messias Bolsonaro, sem que imaginasse que eu era o ex comandante do Batalhão de Forças Especiais e sem que eu imaginasse que ele seria o atual PR. Coisas da vida. Pena que não guardei o jornal.


Reflexões Angolanas

ANGOLA

Um belo país, um belo povo, uma triste sina …

Antes que a memória se apague, vou comentar uma série de acontecimentos vividos por mim nesse país maravilhoso, pleno de tradições culturais, arte, musicalidade, crenças e, por que não, mesmo com uma guerra devastadora, hospitalidade. Esse primeiro fato procura

apenas registrar a visão , ainda hoje distorcida, do europeu ( ou de todos nós?) do africano em geral. Em certa época, durante os cinco anos de minha permanência no país, fui convidado para um “fungi” (comida típica angolana) na casa de um funcionário local.

Ao comentar o convite com dois colegas ingleses, veio a resposta….fulminante “não vá…eles vão lhe envenenar….eles não gostam da gente”. Isso dito com real pânico…Foi uma das melhores noites passadas em Angola…..

LUANDA

Luanda, primórdios dos anos 90, quinze anos após a retirada das tropas de Portugal e da debandada dos portugueses; a cidade….um cáos. Construída para abrigar cerca de 500 mil habitantes, já suportava dois milhões. Abandonada à própria sorte Angola, embora independente

(seria?), lutava contra inimigos maiores: disputas internas pelo poder absoluto, falta de mão de obra qualificada quer em escolaridade, quer em formação profissional, colapso do saneamento básico, falta de água, de comida, de transportes públicos, escolas

deficientes, universidade fechada pela falta de pessoal, lixo sem recolhimento regular, inconstância na energia elétrica…..Herança colonial – tudo ter , nada dar – Quadros qualificados? Para que? O nativo – visto apenas como valor secundário – a ser mandado,

a cumprir ordens, a servir ao senhor colonizador. Exagero? Por certo não.

Descia o avião e podia-se contemplar a beleza da baia de Luanda às primeiras horas do dia. Uma volta longa direcionando a aeronave no rumo do aeroporto 4 de Fevereiro. Embaixo, o “Roque Santeiro”, maior mercado livre a céu aberto e….. “musseques”, muitos musseques.

Onde ficara a Rio de Janeiro africana?

No aeroporto, a grande angústia. Na confusão de pessoas que chegavam, que ali estavam porque simplesmente haviam penetrado no desembarque, dos homens escalados para receber as “autoridades” (não havia serviço de ônibus ou mesmo de táxi) As malas, onde estão

as malas…?

Uma só esteira, horas de espera, incertezas, preocupações, empurrões, xingamentos, olhos atentos…enfim… olha lá, a primeira mala…e a outra…chegou….sumiu?

Trânsito caótico, buzinas em estardalhaço, “candongas” lotadas, lixo pelas ruas, muito lixo.

Enfim, cá estamos. Viva a aventura !

podemos condenar um povo,abandonado após cinco séculos, de apenas ter servido como agente secundário do colonizador?

AS ELEIÇÕES DE 1992

O período pós-eleições angolanas de 1992 não estava tranqüilo. A vitória nas urnas favorecera ao candidato do MPLA, cuja campanha

fora orientada por uma agência de publicidade brasileira. Observadores internacionais ratificaram o resultado, mas o candidato derrotado, líder do partido-exército UNITA, alegava fraude na apuração. Dia-após-dia a tensão aumentava com declarações e ameaças

contestatórias. Em nosso canteiro de obras, no interior do país, acompanhávamos os acontecimentos acreditando que a paz selada alguns meses antes das eleições, seria mantida, mas tomávamos várias precauções. Havíamos erguido uma torre com cerca de setenta

metros onde colocamos antenas capazes de captar os sinais de emissoras de televisão de vários países europeus e que nos permitia também a comunicação via rádio em longas distâncias. Tínhamos ainda excelentes equipamentos de rádio transmissão que nos davam

condições de falar diariamente com nosso escritório em Luanda, com o Brasil e com vários outros países. No passar dos dias fomos notando o crescente movimento nas estradas,de grupos de homens com o uniforme da UNITA, que se deslocavam armados em direção ao

norte. Em pouco tempo havia um grande número de soldados acampados na vila de Cafunfo que possuía, assim como em nossa base, um campo de pouso. Tínhamos a real preocupação de uma invasão, pois o produto de nosso trabalho – o diamante – junto com o petróleo

de Cabinda, era de vital importância para o governo, como o seria na posse de seus opositores. Um dos equipamentos de grande alcance foi escondido em um quarto de nossa casa de hóspedes e de lá passamos a informar continuamente a evolução dos acontecimentos.

Para nossa segurança externa havia um pelotão de polícia com cerca de vinte homens, comandados por um jovem tenente. Internamente possuíamos um grupo de seguranças que incluía os famosos Gurkas do Nepal. Contatos foram mantidos com o Brigadeiro Futungo que

chefiava as forças da UNITA, buscando melhores informações e conhecimentos de seus movimentos.

A INVASÃO

meninos-soldados correm pelo mundo…armas em punho, drogas no sangue, sangue nas mãos…

Certa manhã fomos alertados da passagem, em nossa direção, de pesado comboio de soldados da UNITA. Medidas urgentes foram tomadas,

para retirar para Luanda os altos funcionários angolanos, que seriam, com certeza, alvos prioritários. Nosso estoque de diamantes que seria embarcado naquela manhã, ficou nos cofres…, pois não houve tempo para salvá-lo e a prioridade eram as pessoas.A invasão

foi violenta. Granadas explodiam e tiros eram feitos em todas as direções. Meninos-soldados juntos aos mais velhos, quase todos drogados, avançavam atirando. O pelotão de policiais, em debandada, buscava refúgio nas matas. Nada poderia ser feito a não ser

procurar abrigo. Estávamos ali para trabalhar não para guerrear. Era o início de longos e penosos dias….

A INVASÃO CONTINUAVA

Passados o espanto e o choque dos primeiros momentos, procuramos retomar a situação ameaçada e buscamos o contato com o comandante do ataque. Já não se ouviam tantos tiros, pois os meninos-soldados percebiam que não houvera reação em armas. Nos primeiros passos

fomos interceptados por alguns deles que gritavam “motorola”, “motorola”, “motorola”, apontando para o rádio colocado à cintura e fazendo sinais para que o entregássemos. Logo encontramos o coronel que chefiava o grupo e pudemos nos identificar, invocando

o conhecimento com o brigadeiro Futungo. Durante algum tempo mantivemos uma conversa tensa, na qual o comandante deu-nos 24 horas para nos retirarmos do local, – somente os expatriados. Os angolanos deveriam permanecer. Ante a nossa negativa de abandonar os

funcionários angolanos, tornou-se mais agressivo. O restante de seu pessoal entretinha-se na busca de objetos, comidas e bebidas. Muitos exigiam as chaves dos carros. “as carrinhas, as chaves”. Ia ser um longo dia…..

Mas, conseguiramos retardar a retirada do pessoal, cerca de 1200, argumentando a impossibilidade de fazê-lo em 24 horas. Seriam

várias viagens, inicialmente feitas pelos aviões previamente contratados à uma empresa dirigida por ex-oficiais russos e completada por aviões da Força Aérea Brasileira. Os vôos iniciais dirigiram-se para Luanda, mas pelos violentos conflitos na capital, foram

redirecionados para a Namíbia.

Era uma situação absulutamente surreal que envolvia homens e mulheres de cerca de dezoito nacionalidades. Apesar de muitos feridos tudo afinal dera certo. Para trás ficaram os sonhos, muita dedicação e trabalho, mas à frente teríamos a esperança, muito angolana

de dias melhores.

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