REGINALDO
O dia que um subordinado deu esporro sem razão num Diretor e ele pediu desculpas.
Vou narrar um fato que aconteceu que talvez poucos lembrem, mas depois do evento quase que voltei para o Brasil via Portugal depois da guerra …..rsrs.
Quando Luzamba foi invadida na sexta-feira, após o embarque das mulheres e alguns colaboradores para Luanda à noite em um C-130 que tinha levado combustível para Luzamba e ficou na pista. Após a retirada dos tanques e o embarque de 173 colaboradores, todo nosso empenho foi tentar voos charters para retirarmos ~850 colaboradores o quanto antes. Pela manhã do sábado conseguimos dois voos da Transafrik, mas depois ficamos tentando o tempo todo contato com Luanda para saber o status se conseguiríamos outros. O texto muito bom do Johan detalha bem estes e outros momentos seguintes.
Por volta das 16hrs do sábado, comecei a ligar pelo Inmarsat diversas vezes para Luanda e ninguém atendia. Liguei insistentemente por mais de 1 hora e ninguém dava importância para atender o telefone, nem no Inmarsat e muito menos nos telefones Fixos.
Por volta das 17hrs atende um cara com a voz trêmula, e eu sem nenhuma cerimônia já iniciei a conversa assim:
Reginaldo: Puta que pariu, estou ligando tem 1 hora, fudido aqui no meio do mato, cercado pela UNITA e ninguém atende a porra do telefone????
Atendente: Me….me…..me… desculpe, mas não dava para atender!!!
Reginaldo: Não dava como???? O que vocês estão fazendo ai???? Quem está falando?????
Atendente: Aqui é ……..xxxxxxx……..É que fomos cercados pela UNITA e tivemos que ir para as trincheiras aqui no GAMEK.
Depois de avaliar que ele não merecia ser mais xingado, falei com ele:
Reginaldo: Tá bom, tá bom então, depois me passe as informações dos voos!!!!Até mais…… (Lógico que com um ar de importância para não perder a pose)
Atendente: Ok..Ok….Até mais.
3 meses depois……
Para podermos ter uma melhor interação entre os expatriados, o Otacílio resolveu fazer uma reunião na casa dele com um churrasco e todos que ficaram lá em Luanda, que erámos poucos, foram convidados.
Todos na porta conversando diversos assuntos e vem um grupo descendo a rua, e daí começam a se apresentar. Nesse momento o Otacílio me apresenta a um cara mais experiente:
Otacílio: Oi Reginaldo, venha aqui que quero lhe apresentar uma pessoa que você terá que interagir para podermos atender aos nossos clientes aqui em Luanda.
Otacílio: Oi Bucalon, este é o Reginaldo que é o responsável pela Telecomunicações de Luzamba, que ficará conosco para dar suporte aos nossos clientes.
Bucalon: VOCÊ É O REGINALDO DE LUZAMBA???? (Ele ficou segurando minha mão e me olhando. Nesse momento toda a reunião ficou em silêncio e passou a ouvir).
Reginaldo: Uai Bucalon, eu já conhecia o Sr.????? (Lógico que totalmente sem graça e sem entender nada.)
Bucalon: Você foi o primeiro cara na minha vida, que me deu um esporro sem nenhuma razão e eu ainda pedi desculpas. (Nessa hora a primeira coisa que escutei foi: “Vai voltar amanhã para o Brasil, se não for hoje” …..fora as gargalhadas)
Reginaldo: Bucalon, me desculpe mas na hora a pressão estava grande….( E claro que rindo, pois não dava para fazer mais nada)
Depois disso só foi farra e lógico que ele entendeu muito bem e foram bons anos de convívio, afinal para quem teve o prazer de conhecer o Bucalon, sabe que se trata de uma pessoa espetacular e muita gente boa…
Mais uma para nossa coleção …
O detalhe foi a instalação do Inmarsat. O sinal de satelite passando pelas frestas da janela interna…até o angulo das frestas ajudou para que a mala funcionasse com a janela fechada
Sim! com a janela fechada.
Lembra que um dia foi pedida permissão aos guerrilheiros para falar com Luanda usando o Skanti e eles acharam que era a única comunicação que se tinha. A conversa foi escoltada. E o Inmarsat comendo solto lá dentro.
O Skanti estava no Container, junto com o outro Inmarsat que foi para Windoek, que tirei subindo no container com a UNITA no domingo começando a atirar em tudo. Me lembro até hoje da adrenalina quando desci.