NAIM
Caro amigo Djean. O tempo passa, mas Luzamba não sai de nós. Não é mesmo? Este foi um Projeto mágico. Marcou a todos nós. Não cansamos de recordar é sempre com emoção. A sinergia que esteve presente no pouco tempo de existência do Luzamba, foi atípica. Não conheço ninguém que não se recorde daquele tempo sem emoção e carinho. Fomos um só. Inesquecível. Forte abraço
Altair desta eu não sabia. Que fim triste. Aliás, antes disso chegamos a montar um grupo para bancar a edição devem livro que ele escreveu. Distribuímos para várias pessoas. Tenho alguns em casa. Grande Ferrão. Muitos ensinamentos. Inesquecível
Luanda, 25.ABR.20
Caros amigos e amigas
Esta é a terceira vez que tento iniciar uma das histórias sobre a minha passagem no Luzamba.
Terceira porque não gostei das que escrevi das outras duas vezes, tendo em vista que, na minha avaliação, não tinham a graça das que já li nas postagens que fizeram.
Desisti de apresentar algo com graça e parto para descrever uma situação que teve importância, como parte das ações desenvolvidas na viabilização do Luzamba.
O processo de conquista do Projeto lá na sua origem (1990), passou por diversos obstáculos e o que descrevo a seguir certamente foi um deles e a vitória é que foi o relevante nesta “história”. Pode parecer algo sem muito sentido para nossa realidade, mas garanto que foi muito importante.
No mercado de mineração a importância da Odebrecht era praticamente nula. Somado a este fato, Delmar e eu não tínhamos qualquer cultura deste mercado.
Era fundamental chegarmos até o Presidente da Endiama, para que conhecesse a Empresa e pudéssemos fortalecer a relação com ele. Ser atendido no escritório da Presidência da Endiama era algo complicado. Era preciso passar pela secretária do Presidente.
Aparentemente ela não gostava de nós. Cheguei a ficar por mais de três horas aguardando ser atendido e, quando conseguia falar com o Presidente, ele me dizia que não sabia que eu estava a espera dele. A secretaria não teria dito a ele (não sei se aconteceu mesmo assim).
Bem, diante desta dificuldade, a conclusão era que a principal conquista naquele momento não era o Presidente e sim a Secretária.
Conversamos muito sobre as formas de conseguirmos estabelecer uma relação menos formal com ela, mas nossas estratégias não tinham sucesso. Ela não mudava a cara feia quando nos atendia.
Perdíamos muito tempo quando precisávamos contatar o Presidente. Naquela época não existiam celulares e o sistema de comunicação por telefone em Angola era totalmente ineficaz. O contato precisava ser pessoal.
Inúmeras foram as vezes que fui a Endiama para buscar um encontro com o “chefe”, mas na verdade o que buscava era encontrar formas de desbloquear a resistência dela a nós.
Um dia e depois destas inúmeras tentativas, consegui que ela desse um sorriso. Conversasse comigo e permitisse que falássemos de questões menos formais. Foi um marco. Saí de lá e fui direto para o escritório. Interrompi uma reunião que Delmar estava tendo e dei a informação da conquista.
Como tratava-se de um marco, partimos para comemorar. Naquela época, o Chivas era a forma automática de comemorarmos. Brindamos bastante aquela conquista.
Ela hoje é uma amiga e temos uma relação saudável. Ela já não é mais secretária do Presidente, mas sim da Direção do Projecto Chitotolo.
O Estudo de Viabilidade (EVTE) feito para o Projecto Luzamba era muito claro quanto às necessidades financeiras para seu arranque. Claro também era o fato de que não tínhamos o valor indicado pelo EVTE e o Projeto já tinha saído da inercia. Era urgente que conseguíssemos encontrar meios financeiros para sua continuidade. Havia uma negociação em andamento com o dealer Caterpillar na África do Sul para aquisição de equipamentos para a mineração, mas buscar crédito para Angola naquela época não era nada fácil. O que tínhamos de fato para os potenciais investidores e/ou credores, era um EVTE que mostrava a excelente viabilidade do Projeto. Era necessário encontrar outras fontes de financiamentos. Tínhamos debaixo da terra tudo que precisávamos – os tão desejados diamantes. Acontece que não tínhamos equipamentos para explorá-los porque não tínhamos dinheiro para comprá-los e, não tendo equipamentos, não realizávamos a exploração dos diamantes que seria a solução do nosso problema. Um tipo “sinuca de bico”. Dentro da nossa concessão, mas em área autorizada a desenvolver atividades de mineração, existia uma empresa em plenos trabalhos de exploração, a RST. Resolvemos procurá-los para negociar uma relação no sentido de usarem os equipamentos que dispunham para prestarem serviços para nós. Foi uma ótima decisão. Eles toparam e passamos de imediato e com muita urgência, a negociação das bases comerciais e técnicas para o início dos trabalhos. Quanto mais cedo iniciássemos, mais cedo teríamos diamantes para comercializar e, desta forma, reforçar o nosso caixa. Estabelecidas as bases, partimos para discutir o contrato a ser assinado. Além do contrato entre a Endiama e a Odebrecht para o Projecto Luzamba cuja elaboração e consenso durou quatro meses (contarei estes momentos em outra ocasião), o contrato com a RST foi um dos que mais trabalho me deu, apesar de ter sido feita a negociação em 24 horas. Exatamente 24 horas. Foi numa quinta-feira (não lembro mais de que dia) que fomos para uma sala em uma das instalações na Mina, nos sentamos em duas mesas distantes uma da outra de uns dois metros. De um lado a equipe da RST composta de três pessoas, mas que apenas um iria tratar das questões – o Dr. Sergio Costa, advogado da Empresa. Do outro lado a equipe da Odebrecht. Fiquei com a função de iniciar o processo negocial, mas tínhamos equipe com muitos especialistas no suporte. Delmar também estava na reunião. Vez por outra revezávamos na condução das negociações pois o processo era cansativo. Os trabalhos tiveram início por volta das 09:00hs. O Dr. Sergio Costa era um excelente negociador e profundo conhecedor das Leis angolanas. Além destas características, tinha uma resistência incrível. Só ele conduzia a negociação pela RST. Eram 06:00 hs da manhã de sexta-feira e ainda estávamos nas mesas de reunião finalizando o contrato. Lembro que eu tinha uma viagem para o Brasil de visita a família naquela sexta e precisava ir para Luanda. O pessoal da RST também iria viajar para a capital. Foi um sufoco. Terminamos, assinamos o contrato e seguimos direto para o Cafunfo para pegar o avião em direção a Luanda. Inesquecível.
Como curiosidade, o Sergio Costa mais o Renato Hermínio e o Andy Smith, que eram os líderes na RST, alguns anos depois criaram a empresa de mineração ITM Mining que até hoje desenvolve atividades em Angola. Em 1996 quando terminei a minha relação com a Odebrecht, a ITM na qualidade de sócia do Projecto Chitotolo, me convidou para ser o Diretor Geral daquele Projeto, onde fiquei até o ano de 2004 para, em seguida e também a convite deles, assumir a Presidência da ITM. onde fiquei como CEO até 2008.