Estórias de Cada Um

ELISEU FURTADO

Paulo Roberto, acredito que esse mesmo trator D7, digo o mesmo, porque foi apenas um D7 que havia no projeto.

Em 1997 eu com a equipe de segurança acredito que foi o Barbosa ou Bonfim e a tropa, recuperamos esse trator da mata, essa máquina foi uma das que mais estava integra na mata, só troquei a bateria, e colocamos diesel, dei na partida e funcionou!

Parece que no mesmo dia ou dia seguinte esse D7 já entrou em operação.

Muito interessante esses relatos que estamos vendo aqui, nos faz ter lembranças de tão longe no tempo para nós, e quando elas vêm, é com tanta clareza que parece que não faz tanto tempo.

Como o Dr. Delmar falou outro dia, precisamos de um fio da miada, para puxarmos da memória as lembranças.

Um Bom Dia para todos.

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Major Pena, tive muito contato com ele, a frota de Unimog dele dava muito problemas e dávamos apoio na manutenção, nos caminhões Kamaz e Ural também.

Quando fui transferido para a linha de transmissão, andava muito em estrada na mata sozinho, ele o Major Pena me deu uma AK47, dois carregadores e uma lata de bala cheia, umas 1000 balas tudo novo.

Todo o tempo de linha de transmissão carreguei essa arma no carro,

Na invasão da unita, eu consegui fugir para o mato, levei o Pereira do almoxarifado comigo, fui para atrás da horta do Ivon! estava em uma Nissan Patrol, passamos dois dias no mato.

Escondi o carro e voltamos a pé por dentro da mata, quando cheguei perto do acampamento, subi em uma árvore e vi o que estava acontecendo, até Terex R35 já tinha rodando no acampamento!

Vi quando atearam fogo no hospital, depois tentaram apagar com extintores, mas não conseguiram.

Vi os Russos passando perto da árvore que eu estava, não chamei comedo de ter alguém da unita atrás deles, depois de umas duas horas seguei os rastros deles e os encontrei na captação de água na beira do rio. Disse ao tradutor que se o exército do governo não chegasse para nos resgatar até o dia seguinte, eu iria para Luanda mas o carro não cabia todos, como tinha mulheres e mais velhos, ofereci carona, eles conversaram entre eles, e responderam que só iriam se fosse todos, como não dava preferiram ficar.

Voltei para encontrar o Pereira, já estava escuro, o capim parte queimado e parte não, eu já estava preto de carvão do capim, andando sem ver direito, cai em uma trincheira bem funda, na queda cortei muito os dois braços no capim afiado e raizes, foi um grande susto, foi difícil sair do buraco, já estava escuro, tinha medo de não achar o carro, mas consegui achar, o Pereira estava com medo e muito preocupado de eu não voltar mais.

passamos a noite no carro, não tinhamos nem água nem comida, um dia e uma noite sem beber e nem comer! ( eu ainda bebi um pouco no rio) mas o pereira não. Bom muito tiro e morteiro o tempo todo, a noite toda, não conseguiamos dormir

No dia seguinte, fomos com muito medo na horta, pegamos ovos, as galinhas com fome, rasgamos todos os sacos de ração para elas, cortei a tela do galinheiro para elas sairem e comer capim.

arranquei milho e batata, tiramos diesel da bomba de irrigação para abastecer a Nissan, pegamos uma cuba de alumínio de um comedor de galinha para servir de panela para cozinhar os ovos, com muita sorte mesmo, achamos um esqueiro, água bebemos de um tanque que tinha lá, e levamos um bocado, voltamos para a mata, e ficamos na dúvida, fazer fogo, a fumaça pode chamar a atenção deles, mas a fome estava demais, resolvemos fazer, cozinhamos ovo, batata e assamos milho, o Pereira cozinhando e eu com a AK47 de guarda bem mais a frente ou seja, se viesem alguém eu abria fogo e o Pereira fugia, esse era o plano.

Comemos bastante e bebemos água do tanque.

No início da tarde, disse ao Pereira que eu ia mais perto do alojamento por trás do alojamento dos engenheiros, pois o mato era mais alto, queria ver o que estava acontecendo, ele ficou com medo disse que não ia, deixei a chave do carro com ele, e fui, com cuidado e devagar me aproximei do aceiro da mata, aproximei por trás da “churrasqueira no piloto Gaúcho bigodudo que assava costela, esqueci o nome dele”, havia muita gente andando no acampamento, homens, mulheres, até adolecentes, levando tudo, vaso sanitário, espelho, mobilia, cama, colchão, tudo mesmo, embarcando em carretas e caminhões da obra. O que me chaou muito a atenção, foi um homen grande barrigudo, de bigode bem grosso, sem barba e branco, estava dando ordem para os militares, ele não estava com roupa militar, blusa de mangas comprida azul e calça jeans, fiquei com tanta raiva nesse momento, que resolvi matar esse cara, armei a AK47, me apoiei em uma árvore e mirei no peito dele, como ele estava há uns cem metros de mim, eu cansado, muito nervoso, não conseguia parar a mira no peito dele, na hora que ia puchar o gatilho, um militar bem perto encheu a minha mira da Ak47, e passou, fiquei muito quieto voltei ao normal e vi o tamanho da besteira que ia fazendo, agradeci muito Deus em colocar esses militares na minha frente, deixei eles se distanciarem e bem devagar voltei, já eram umas 16:30hs quando cheguei no carro.

Disse ao Pereira o que aconteceu, ele ficou perpexo, era gago, com tanto stress nem conseguia falar mais! chegamos a conclusão que ninguém ia conseguir ir nos resgatar, Convidei ele para irmos embora, na hora arrumamos no carro as batatas, os ovos e os milhos no carro, e partimos.

Como eu caçava e era da linha de transmissão conhecia a área e sabia o caminho, passei por trás da horta, entrei na mata com a nissan, fui abrindo caminho na mata mesmo, chemos em uma vala muito funda e larga, passei na diagonal, o carro bem inclindo, até chegar ao fundo, e depois subi do mesmo jeito, depois ficou pior só capim, dificil de ver, até que chegamos em uma estrada abandonada que deu no ramal da fazenda Holanda, mas até chegarmos lá, teve muitos detalhes que não da para escrever se não fica muito mais longo esse texto.

Esperamos escurecer para entrarmos na estrada, estava lua cheia o luar bem forte, em parte era bom para vermos a estrada, mas ao mesmo tempo eles também podiam nos ver, dirigi o mais rápido que podia com as luzes apagadas, em uma vila a 45Km de capanda, falei com os locais que eram meus amigos, eles me disseram que já haviam passado dois Brasileiros de tarde, e no início da noite, eles tinham ido de bicicleta com dois nativos, então fomos seguindo o rastro das bicicletas, havia chovido, dava para ver os rastros, quando sumiu os rastros das bicicletas, paramos e gritavamos o nome de um dele que eu sabia quem era, o Dejair Martins, até que aparece o Dejair e o Milíco juntos gritando de dentro do mato com dois Angolanos, foi uma alegria, os dois voltaram e seguimos, dez Km antes do Dondo, parei em uma fazenda de dendê de um amigo angolano, lá ele me disse que estava havendo toque de recolher 20:00hs até às 06:00hs, então, passamos a noite na fazenda, comemos bem e bebemos cerveja Cuca, foi uma noite um pouco melhor, às 05:30hs eu ofereci a AK47 os carregadores e as balas que tinha no carro para esse meu amigo, partimos rumo à Luanda, nós estavamos muito sujos e preto de carvão da queima do capim.

No Dondo havia muitos militares, foi só pegar a estrada pavimentada para Luanda que fomos parados em uma barreira, nem um de nós tínhamos documentos, só o crachá, bom fomos todos presos, graças a Deus, o tenente da barreira, havia estudado na Inglaterra, era bem educado, quando fomos levado à ele, o mesmo entendeu o nosso problema e acreditou no que dissemos, ele fez um documento assinou e caribou, nos liberou e disse que poderiamos chegar até Luanda, só mostrar o ducumento nas próximas barreiras, entramos na vila do gamek perto de 10:00hs, de todos que estavam em kapanda, fomos os primeiros a voltar, eu, Pereira, Dejair e Milíco.

Bom foi a notícia do dia na Odebrecht, logo tivemos uma reunião com o Eng. Carlos Mathias e todos os outros gerentes e diretores, depois entrevista com Pedro bial que estava cobrindo essa notícia.

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Essa estória que para mim já é História, é muito mais longa, inicia na hora que o Eng. Cesário me chamou da fila do embarque do avião de evacuação e me disse que ele havia me escolhido para compor a equipe que ia ficar no acampamento, seria poucas pessoas só a lotação dos dois bandeirantes, incluive ele, eu aceitei ficar na hora, essa primeira parte é bem longa e com muito perigo real de morte para mim, o carro que estava dirigindo foi alvejado, mas com muita sorte, não fui atingido, assisti da mata o avião com o Eng. Mathias estava chegando ser alvejado e partir, doidice do piloto voltar, novamente alvejado, e levaram três tiros, mas chegaram em Luanda. fica para outra oportunidade a primeira parte.

Esse texto não fará parte do livro, pois não é inerente a Luzamba, mas ilustra a saga dos Brasileiros em angola.

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