DIANA PALHOTAS
Saudades
Este é um pequeno texto sobre a minha experiência no Projeto Luzamba e a experiência de Angola.
Saudades é a primeira palavra que me vem à ideia.
Saudades do cheiro e da cor da terra.
Do choco grelhado na ponta da ilha.
Das cocadas que os miúdos vendiam no Mussulo.
Dos churrascos do Nonato e especialmente da picanha só com sal, uma delicia!
Dos meus amigos e amigas brasileiros de tão diferentes regiões, os angolanos, o belga, os ingleses, os peruanos, os portugueses, etc.
Saudades de ir aos kilometros, ao artesanato e às vezes ao fim de semana às praias.
Saudades da marginal de Luanda.
No trabalho e no relacionamento existiram algumas brincadeiras e dificuldades com a língua portuguesa falada e escrita no Brasil e em Angola.
Antes do acordo ortográfico, era como se tivesse de aprender a escrever com erros:
Tudo sem o “c”, em brasileiro e com “c” em angolano. E as palavras como, engajamento, ónibus, cumbu, madié e outras que me intrigavam.
Cheguei a Angola em Dezembro de 1991, tive a sorte de ser entrevistada pela Maria Helena em Janeiro de 1992, ela precisava de ajuda e eu de trabalho, foi perfeito.
Aprendi muito com ela e lá andava eu para baixo e para cima naquelas escadas do Miramar desde a direção para o rádio, o inmarsaat, ir buscar o café, às vezes uns lanchinhos pois as reuniões acabavam às 20h, 21h.
Foi tudo novo e com 21 anos por vezes não foi fácil.
Mais tarde o projeto deu-me formação em informática, adorei e nunca mais parei de usar, acho que até fiquei expert em PowerPoint, ou seja acabei trabalhando muitas horas no computador e tornou-se a minha melhor ferramenta de trabalho até hoje.
Depois do assalto ao Miramar acabei por ir viver para a Xuxa, não me lembro qual foi a 1.ª pois acabei por trocar várias vezes ao longo dos anos da minha estadia em Angola, adorava a Vila da Xuxa, da Sónia Cahu!
Ainda na Xuxa certa noite estava eu na salinha com a Lena e o Chapela ouviu-se um estrondo enorme, vai o Chapela disse:
“O Rui caiu da cama”, de fato ele estava a dormir ferrado, mas não caiu, foi o início do rebentamento do paiol!
Entrei em pânico, fugimos os 3 para a Vila Gamek, estive acordada até de manhã e só mais tarde nos rimos muito da frase do Chapela.
Enquanto durou o Luzamba aconteceram mais episódios que já todos sabemos, uns muito maus e outros nem tanto.
Talvez da idade, hoje 52 a minha memória me puxe para as coisas melhores, os momentos bem passados.
Fui só uma vez a Luzamba para a festa de São João, as condições de trabalho e de alojamento eram diferentes do que eu conhecia em Luanda, adorei conhecer aquela terra.
Graças ao Projeto Luzamba tomei o gosto pelos diamantes, ou seja, aprendi muito sobre mineração, o que é um desvio de rio, o que é uma lavaria, o que são quilates, etc.
Guardo um carinho muito especial por muitas pessoas que passaram pela minha vida e em especial no tempo que passei em Angola.
Este país deu-me algumas rugas e cabelos brancos mas também me deu muita experiência e sabedoria e deu-me o maior tesouro que não imaginava, o diamante da minha vida, a minha filha, metade angolana e metade portuguesa.
Saudade é a palavra que expressa o que sinto.
Obrigada ao Projeto Luzamba, obrigada Angola e Brasil!