Estórias de Cada Um

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CALADO

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Cheguei ao Brasil dia 2/2 quarta-feira, fui o penúltimo voo

Primeiro voo da FAB, se a memória não falha…, já saindo direto pra Windoeck, e fomos recebidos por Alexandre Moreira que estava lá…., fomos alocados em avião da Vasp, que nem água tinha pra nos dar. A tripulação com semblante cansado. Mesmo voo que o Baiardi veio para o Brasil

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Você não sabe como consegui? Digo que necessidade. Qdo na sexta, depois do almoço que houve a invasão, eu morava no trailers vizinho ao de Delmar, qdo ouvi os tiros, não acreditei, mas qdo boto a cabeça pra fora vejo guerrilheiros adentrando o portão…, vc chegou a entrar naqueles trailers? Tinha uma vaga embaixo da cama, que era exatamente o lugar da mala. Tirei a mala, e, não sei como me encaixei naquela vaga…., passados alguns minutos.., a bala cantando …., (veja o que pensei), meu Deus esses trailers são de fácil penetração de projéteis…, se eu morrer, ficarei aqui é ninguém sentirá minha falta…., mas eu meu pensamento o problema era muito maior…., ficarei em uma posição e não poderei ser enterrado naturalmente. Em frações de segundo, sai do buraco da mala, sentei no chão e como católico que sempre fui, comecei a rezar…, o tiroteio cessou…, e todo mundo foi em direção da GH

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Em 1995/6, estava no programa da Unavem III, e tínhamos que construir as áreas de aquartelamento para os guerrilheiros, 16 no total de Angola. Carlos valente era o nosso GC, 4 regiões no país, eu fiquei com gerente do Norte, a primeira a abrir, fiz a área de Negage (Uige), seguido de m’banza congo (prov. Zaire)!uma outra que falha a memória e a última da minha região foi em quibaxe. Tinha informações do general da unita, comandante da região norte “assobio de bala”, (tornou-se meu grande amigo), a quem procurar em quibaxe, coronel caluassi. Assim ó fiz, me apresentei, falei no nome do general assobia e bala, ele me falou que já estava a minha espera…, na mesma sala, havia um outro militar que não parava de olhar pra mim…, de cima em baixo…, e me incomodava muito…., resolvi então cortar a conversa e me despedir, apertei a mão do coronel Caluassi e o outro cumprimentei com gesto de cabeça…. qdo ia me retirando esse outro militar mandou que eu parasse…., gelei na hora, olhou bem nos meus olhos com aquela simpatia (pra dizer o contrário), e questionou… o engenheiro calado já teve cá em Angola, pois não? Sim respondi, então ele rasgou de uma vez: o eng estava em luzamba na invasão…., sim respondi e pensei agora “ fudeu Maria Preá…, o coronel caluassi levantou da cadeira…, só não me caguei pq não tinha merda pronta. O dito olhando nos meus olhos… não está a me reconhecer? Qdo realmente olhei direito…., luzamba na minha cabeça…, capitão sto Antônio, na mesma hora veio a correção: major. Relaxei e ficamos amigos

Em 1999, soube que Savimbi havia matado pessoalmente o general assobio de bala. O major sto Antônio soube que morreu de tanto beber capuca e “ capurôto

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Fernandinho, esvaziamos lata de leite em pó para colocar na pista do aeroporto certo ou estou enganado….., o avião da fab chegaria na madrugada

Com querosene pra iluminar

E balizar a pista

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A Invasão – 30/10/1992

Já estávamos ciente de uma evacuação, Pedrão, como todos os gerentes de programas, reuniram seus liderados e o comunicado foi feito, no meu caso, pertencia a gerencia de programas especiais, meu líder, Pedro Chaves. Nossa reunião foi na cerâmica, tudo certo e acordado. Sabíamos da evacuação que teríamos que fazer, reunião esta realizada na sexta dia 30/10/1992, pela manhã.

Ta tudo muito bom, voltamos para a vila dos trailler (da qual esqueci de mencionar anteriormente, fui eleito prefeito). Fomos a guest house (GR), almoçamos e depois cada um se dirigiu a sua casa (cubículo), no meu caso, morava no trailer com joão do tiro.

Não sei precisar a hora exata, mas iniciaram sons de bala, pensei ate em “peido de véia, estralo bebé”, tá, tá, tá….., e foi se aumentando continuamente, ate o momento de ouvir vozes de alvoroço, coloquei a cabeça para fora do trailer, alguns amigos e fizemos sinal um para o outro…., “é bala caba véi”. Ai disse comigo mesmo, “Fudeu Maria Preá”… . No interior do nosso Trailler, existiam dois cômodos, um banheiro e uma “imprensada cozinda”, melhor, pula essa parte, nos cômodos existia em baixo de cada cama, exatamente um lugar onde nós colocávamos as nossas malas, amigo, foi nesse buraco que eu entrei…., e ali bem acolhido, bem guardado….,esperei….., e depois, raciocinei, porra, esse trailer é de fibra, a bala de AK ultrapassa vários trailers…., que porra to fazendo aqui…. “ meu pensamento”: “porra se eu morrer, vou ficar duro, todo encolhido, ninguém vai me procurar… e se me acharem, vai ser uma bronca pra me colocarem num caixão”…, neste exato momento, saí daquele buraco, e comecei a rezar e cantar musicas da paróquia que frequento e onde moro. E depois cada um começou a sair do seu trailer, sempre meio desconfiado e fomos em direção a Guest House, e deu inicio assim o processo de evacuação. Esse Testemunho dei na minha paróquia “Nossa Senhora da Piedade, localizada no bairro de Piedade, Jaboatão dos Guararapes – PE, ao frei Geraldo.”

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Viagem a Swalizandia

Estava eu no meio do mato, cortando arvores e ensinando os angolanos, lembro de um colaborador chamado “fufuta”(queria porque queria que eu o transferisse para as lavarias…), no dialeto Cokwe, significa poeira, menino bom, quando falamos de religião, e disse que era católico, me deu uma bíblia no dialeto dele, infelizmente ficou na evacuação.

Voltando ao assunto, por volta de umas 09:00 hs, chega um angolano dizendo que estão me chamando no radio do carro, era Pedrão “bicho arrume suas porra que você vai viajar hoje pra swalizândia”, e eu respondi, blz, vou terminar uma operação aqui e pego o beco…qual nada, em se tratatando de Odebrecht, era bala de Ak 47, e então Pedrão: “bicho é agora, o vôo vai sair as 10:00 hs e você não pode perder. Porra, parei tudo e me piquei…. o chefe tava mandando, fazer o que?

Voei para Luanda, chegando lá, não lembro quem me deu U$ 1,000.00 e a passagem, e também não sei quem me levou para o aeroporto, não lembro bem, mas acredito que voei antes da 1 da tarde. Bom até ai, tudo bem, vôo de Luanda/Harare/johnesburg. Nunca havia feito vôos internacionais, além do rio/Luanda, tudo bem, peguei a conecção em Harare para jbuk. Aí começou o problema, naquela época, havia necessidade de visto para brasileiros entrarem na africa do sul, e eu pagando de otário e não sabia, no desembarque, na imigração, eu, na época com meu inglês de dicionário “Michaelis”, só entendia quando a mulher falava “ stay there please”, isso, chegou inúmeros vôos, e ele sempre falava stay there, please. Eu já puto da vida, sempre exclamava com ela com o meu bom “Michaelis”, what’s my problem please, e era sempre a mesma resposta…stay there please. Bom, eu estava na Odebrecht, lembrando de historias do projeto carajás, ouvi historias de Marcos Cruz de que sempre alguém na empresa sacaneava alguém em vôos, com data, hospedagem, etc…

Pera aí, pensei comigo: sei e tenho certeza que tem alguém da empresa me esperando aí fora, fiquei de boa, então iniciei uma conversa com a atendente da imigração em minha linguagem…, ô filha da puta, rapariga safada, qual é o meu problema? Em um minuto ela me deu atenção : please speak english…, e eu: eu vou la mais ispicar inglês com você puta safada, rapariga do cabaré da rua da guia…, bom neste momento ela anunciou que precisa de um interprete em português. Bom, quem vem? O cara da Odebrecht, salvo engano o Joe, não sei o que ele fez, só sei que eu passei. Fomos direto pra casa do Dr. Naim Cardoso, ele já me aguardava, e como sempre sua educação, carinho e delicadeza, juntamente com sua esposa, me recebeu muitíssimo bem, e mais um casal da endiama que ele estava rescepcionando, perguntou-me se estava tudo bem, respondi que sim, tomamos uns goles e depois fui para o apart hotel que a empresa tinha no bairro de sandtwon (detalhe, essa época era a da segregação racial, e tive a curiosidade de perguntar a Fernando, um cara que mora por lá, porque não havia iluminação pública?, resposta simples, para “eles” não andarem a noite por aqui.

Foi nessa viagem que conheci meu amigo Bonilla, encontrei com Djean Cruz indo pro Brasil de folga, de quebra me cobrou pedágio(uns colares que havia comprada para minha esposa e filha, para levar uma encomenda minha para o Brasil).

Minha pergunta até hoje: Quem me sacaneou? A empresa sabia que para entrar na africa do sul era necessário ter visto, quem me sacaneou? Foi você Paulo Ramos?

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Minha chegada ao projeto Luzamba – 19/08/1992

Lógico que naquela época, trabalhar fora do Brasil, era para poucos, quando me formei em 1979 pela universidade federal de viçosa UFV-MG, logo em janeiro, recebi um convite para ir ao iraque pela Mendes Jr., não aceitei, estava namorando com a mulher a qual em 82 veio a ser minha esposa.

Conheci Paulo Ramos (muito sabido e gostava de dar nó, e não gostava de comprava cigarro, e ate em Luzamba tambem) no maranhão, fui fiscal dele no projeto carajás.

No inicio de agosto de 91, estou em Açailândia (MA) com minha empresa de consultoria…, recebo uma ligação do meu amigo PR, convidando para ir para africa/Angola, e lembro de cara me apresentou pelo telefone ao “fale aqui com seu chefe” e acerte os detalhes com ele, iria ser apenas o meu chefe, meu amigo e irmão Pedro Chaves.

Embarquei em 18/08/92, chegando em Luanda na manha de 19/08, ficamos no aeroporto mesmo e dela um vôo para cafunfo e, de carro para luzamba. Minha sensação ao desembarcar, foi a pior possível, aquele cheiro de zoológico (me perdoem, mas foi o que senti), me subiu a cabeça, e pensei cá com meus botões, aonde fui amarrar meu cavalinho.

Chegando em Luzamba, esperava encontrar com meu amigo PR, mas soube que estava de folga, e somente no outro dia foi que conheci Pedrão no refeitório, afora tinha encontrado alguns conhecidos.

No meu treinamento com Fernando Carrielo, fui informado de tudo e também informei a ele o que pretendia fazer, ou seja, exploração florestal. Após treinamento de uns dois dias se não me engano, encontro com Pedrão e explico que o precisava para conhecer a área, um carro e um guia local. De pronto Pedrão me deu seu carro, um Discovery, mas, me alertou logo, cuidado com esse carro, estabilidade zero, pois “Já tombei com ele” ….

Não tive a menor dúvida, em conversa com um dos encarregados de PR, troquei por uma caminhonete Toyota 4×4, equipada com guincho e tudo mais, pois sabia as bocadas que iria enfrentar.

Acredito que após uma semana andando pela “Mata” (aqui no brasil se compara com um cerradão pesado MA/PI), e após um “inventário florestal” feito pra inglês ver, identifiquei locais onde existia potencial de exploração. Até aqui, ta tudo bem, a segunda parte era a identificação das madeiras, e se realmente iria nos atender. Com os guias locais, fui identificando arvores e suas respectivas finalidades, densidades…etc…, mas tudo era em vão pois ninguém la sabia dizer nada, com firmeza. As arvores mais encontradas, por incrível que pareça, são a grande maioria com a letra “M” monhongo, mulambe, mutongo, mutako, entre outas

Acredito que já passaram 15 dias da minha chegada, voltei ao chefe Pedrão, e disse o que precisava, no momento: “só preciso” de um trator de esteira, um caminhão carga seca, uma carregadeira e motosserras… Pedrão olhou pra mim…espantado…”só bicho”?

Bom, respondeu ele, o caminhão florestal equipado com munck na trazeira (pra mim novidade) já foi comprado, lastro de 6 m carroceria, agora o trator de esteira, você vai falar com seu amigo PR, é quem tem equipamentos, de pronto meu amigo PR me deu um D7, e com muita insistência minha, me arrumou uma carregadeira de esteira 977 (também novidade para mim), fui ao almoxarifado e conheci Sidney, que foi literalmente a minha salvação. Falei da minha situação e o que poderia fazer por mim, sua resposta lembro até hoje “esquenta não bicho, tem motosserra pra car… aqui, agora é tudo do pessoal da geologia, tem de todo tamanho, correntes e sabres a vontade”, Jesus, tô no céu. Artuzão, geólogo, me enchia o saco porque pegava as motosserras dele (kkkk0

Neste ínterim, em conversa com Fernando Carrielo, ele me diz que tem muita mina espalhada por ai…”cuidado Calado”….., ô filha da puta, agora que você vem me falar? Depois que andei de pé na mata durante 10/15 dias…porra!!!!! E lembrando, fica puto quando queria tomar um rumo e os angolanos diziam, “ai não chefe, ali não…e não entendia”.

Após esse aviso, tomei os devidos cuidados, os colaboradores angolanos sempre na frente, distância de 5/6 metros, e só pisava onde os mesmos pisavam, tipo sombra…

Bom, identificado os locais e seus potenciais, iniciei abrindo estradas com D7 com o operador “Charrasqueta”, peguei alguns operadores de motosserra junto a olaria (cortava lenha para abastecimento) e parti para o campo. Para cortar as primeiras arvores, arvores estas identificadas com 400 de rodo (1m de diâmetro), os angolanos ficaram com medo…. lá vai eu pegar em motosserra para ensinar como fazer….”meninos trabalhosos viu), e o pior, o aproveitamento das toras era complicado para eles…, toras com 10 m de comprimento, com 6 m, com 8 m……. “ e ai chefe”? meu Deus…., mas foi bom!

Certo dia Pedrão e PR, se eu não me engano, vão na mata, viu um batedor (clarão na mata, local de estoque de toras) que eu havia feito, olhou, e o jeitão de Pedrão ser….”porra bicho, parabéns… agora venha cá bicho, que porra de estrada é essa que você ta fazendo bicho, parece que você soltou uma cobra e ta seguindo ela”? Minha resposta foi muito simples, não tenho a topografia comigo, e olhei para PR…, e ele também respondeu, “bicho, não posso te emprestar nada”. Pedrão na mesma hora solucionou a bronca: “vá la, pegue a porra do helicóptero e sobrevoe sua porra aqui, veja aonde você está e veja o caminho que tem que seguir, e assim foi feito. Pra quem não lembra, essa primeira exploração foi no caminho do tázua a direita, depois Cassulo kenda. (alguém falou que na retomada, encontraram o D7 e a carregadeira 977 por lá). Fui com Aguinaldo, PR, se não me engano Carlinhos, Otavio de helicóptero até Capenda Kamulemba ver uns equipamentos que estavam abandonados e possíveis de recuperação, e la encontramos 2 Skiders novos em uma garagem, para minha alegria, mas, não chegamos a transportar os mesmos para luzamba.

“O primeiro carregamento, ninguém esquece”

O caminhão pronto na oficina, o motorista (irmão de Genésio) sem treinamento adequado…, simbora, iniciamos o carregamento logo no primeiro horário da tarde, três toras, logico, duas embaixo e uma em cima…um parto de elefante para o operador sem nenhuma experiência, operação que no máximo duraria 1 hora, levou a tarde inteira. Bom, caminhão carregado, simbora pro pátio da serraria (iria ficar atrás da GR), e ái o que aconteceu? O motorista tava com tanto medo, mas tanto medo, vinha acho que com 15 Km/h, e eu falando pelo rádio, “vamos meu filho pelo amor de Deus”, chega em uma bendita curva, ele com muito cuidado no caminhão e com muito medo, toma a esquerda da estrada chegando no aterro….. e a velocidade do caminhão era tão baixa, que eu e o meu encarregado Gerson dentro do carro cantamos a pedra…, “esse porra vai tombar” ….pqp!!! tombou! Que tristeza, passei radio pra Tristão e outros encarregados e mandaram pra mim uma carregadeira de pneu, descarreguei e assim levantei o caminhão, isso já umas 8 da noite. A pi…. agora era dizer a Pedrão, cheguei na GR e fui no quarto dele, “e aí bicho cade sua porra”?, deu merda, caminhão tombou, não aconteceu nada com o motorista e o caminhão pelo que eu vi, so quebrou o retrovisor, e também não arranhou nada, já desvirei e já trouxe para oficina. E Pedrão, da próxima vez não faça assim, os equipamentos tem seguro, etc…, etc…

Pedrão – Operador de escavadeira

Na minha família, que não é pequena somos ainda hoje em 6 radioamadores, o meu prefixo PY7 BBC, em Angola: PY7 BBC / D2A

No primeiro dia, me informaram da central telefônica, o preço do minuto era U$9.00, pensei, meu Deus, na mesma noite conheci Tristão (D2A ZPD) e vi ele com um rádio no quarto…procurei detalhes… faixa de 20 metros frequência de 14.270 imediações. No outro dia desci liguei pra meu irmão e avisei, avise a Papai, 20m 14270 imediações, horário de brasil 15/ 15:30, chamarei longo….

Primeiro contato com brasil se deu no container de Tristão, e o mesmo me falou do container equipado com radio de ultima geral (o de Tristão um yaesu 757, o outo se não me engano um scanner, Victor deve lembrar), mas tem que falar com o coronel. Que coronel meu amigo… Coronel Mota ele é que é o responsável. Falei com meu amigo mota e de pronto me deu a chave para que possa usar o rádio.

Iniciei as conversas diárias com meu Pai, sempre as 15/ 15:30, a notícia se espalhou…, identifique um amigo em recife, por sinal Angolano de Benguela, que tinha a famosa “Maricota” para fazer as chamadas para minha casa… custo zero, era de recife. Ao contrário das de Tristão que era através de “América” em Curitiba, e as ligações, claro eram sempre a cobrar.

Os clientes começaram a chegar, a maioria do nordeste, pois as ligações fiavam mais baratas. Tive que limitar o número de pessoas e o tempo em conversa com as famílias, pois se não agisse assim iria dormir depois da meia noite, horário de Angola.

Tinha um operador de escavadeira nas lavarias chamado Pedrão, e quando trabalhava no período diurno, todo dia estava no container para se comunicar com “Flávia” sua esposa, salvo engano em uma cidade no norte baiano, era mais barato para ele. Pedrão, o operador, era quem organiza a ordem de chegada, e logicamente era o primeiro a falar com a família. Estava ele fazendo a reforma na casa dele, e como o rádio eu sempre colocava em viva voz, logico ouvia tudo, bota porta aqui, tira janela dali…. e isso levou semanas, agora pasmem: “eu sabia de cor e salteado a planta baixa da casa dele, e lembro que teve uma vez que Pedrão estava em turno noturno e não sei como eu passei por lá na lavaria e ele gritou…. cheguei junto e le me pediu “por favor ligue pra Flavia e mande ela derrubar “aquela” parede da cozinha e afastar mais “aquela” janela do quarto…. o Dr. Calado sabe né…., claro que sei…, e assim fiz isso inúmeras vezes para Pedrão.

Claudia – Telefonista

Estourando um QTC (notícia no código do “Q”)

Meu Amigo Castro PY 7 ART, encontrou uma amiga dele em Recife e pediu a localização de uma irmã ou prima dela que era freira (peguei nome, ordem, enfim tudo que pudesse contribuir) em Angola e não se tinha mais notícias dela há mais de 5/8 anos, por ai. Castro me deu essa missão e não poderia falhar com ele, sabendo que telefone em Luzamba era caro, mesmo que fosse para dentro país.

Falei com Alexandre Rocha, ponderei os favores que ele realizava junto ao nosso pessoal e de pronto ele liberou Cláudia para que iniciasse a busca, demorou um bocado, não sei precisar quanto tempo, mas sempre cobrando. Um belo dia no almoço, Claudia chega com um papel com todas as informações, localização, telefone, tudo e me entregou, “pronto Calado, missão cumprida”…, respondi, nada disse, a sua missão ainda não foi concluída, quem vai “estourar esse QTC é você”, e assim o fiz, acertei com Casto em recife para chamar a família da freira na casa dele e quando lá estavam, chamei Cláudia a noite para que ela mesma “estourasse o QTC”

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A viagem da evacuação

Dia 2 de Novembro 1992 – Penúltimo Vôo

Amanhecendo o dia e todos se arrumando para partir, descemos para o aeroporto ainda escuro, a Unita sempre presente, um frio de lascar, contudo se eu não lembro, Carriello improvisou “poncho” com cobertores e o buraco no meio para entrar.

O avião Hércules da FAB, aparece no horizonte e alegria é imensa, mas não poderia ser externada, o pouso tranquilo, bem agora vamos embarcar, embarcar? Qual é o mané de embarcar? Pensei comigo mesmo…. puta que pariu, se Maria Preá já tava fudida, coitada dela, agora deve estar arregaçada. A Unita começou a ensebar que o voo tinha armas, não encontraram, então começaram a inventar que estavam transportando / trazendo armas para o governo…., e naquele “mangue retado”, com diz o baiano, com muita conversa a aeronave foi liberada. Não lembro a quantidade pessoas, mas com certeza não eram poucas, todos em pé, quem teve a sorte de entrar primeiro, se segurou nas laterais, quem entrou por último, segurava-se nos companheiros, compartimento de carga fechado, taxiou, decolou.

Acredito que uns 5/10 minutos de voo, todo mundo sério e numa tensão “retada” e pra completar vem o anuncio do piloto: “comunicamos a todos que voaremos em baixa altitude, dentro de um país que está em guerra, e tudo pode acontecer para sermos atingidos”, coitada de Maria Preá.

Uma tensão imensa dentro do avião, todos em pé, sem lugar nem pra se coçar (um pouco de exagero né), meus amigos, só lembro quando piloto anunciou que havíamos cruzado a fronteira (região do Caprivi), foi pulo pra todo lado, abraço e muita alegria.

Chegamos Windhoek, e lá estava Alexandre Moreira para nos recepcionar, chegamos até o saguão do aeroporto e retorno para embarque imediato em avião da Vasp.

Quando entre na aeronave, lembro bem deste detalhe, olhei o semblante das aeromoças, estavam com aquele ar de cansaço…, pedi uma agua, e uma delas com a maior tristeza em sua face me respondeu, “vou ficar te devendo, não temos nada a bordo, este é o 3/4/5 voo que estamos realizando pra vocês. Neste voo, estava Renato Baiardi. No aeroporto estavam várias pessoas nos aguardando, mas lembro bem da Dra. Viviane nos dando um telefone para sentisse alguns sintomas de malária.

Ironia do destino, chegamos ao Brasil no dia de finados.

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